“Para vingar as pessoas que foram mortas, e para garantir que não haja mais vítimas, eu obviamente vou brandir minha espada às cabeças dos onis sem qualquer piedade. Mas para quem ser um oni significava sofrimento, e para quem se arrepende de seus atos… Eu nunca passarei por cima deles! Porque os onis também já foram humanos! Foram humanos, assim como eu!”
Essa é a fala transcrita de Tanjirou Kamado, o protagonista de Kimetsu no Yaiba (também conhecido como Demon Slayer), anime de 2019.
Sei que estou bem atrasada para a festa, para variar. Eu nem ia ter essa cara de pau de fazer uma resenha sobre um dos animes mais populares do ano passado porque, afinal, quem já não assistiu ou pelo menos ouviu falar de Kimetsu no Yaiba? Você estava vivendo trancado dentro de uma caixa de madeira por acaso?
Só que, conforme fui assistindo o anime, uma característica muito forte do protagonista me deixou profundamente tocada, e agora eu preciso ao menos escrever sobre isso como forma de lidar com meus sentimentos. Acredito que já deixei claro do que se trata: Tanjirou é um garoto que, dentre suas várias qualidades e defeitos é, sobretudo, cheio de compaixão.
Isso é uma resenha, então permita-me dar o cenário geral da história antes de seguir mais a fundo nas minhas reflexões:
Em um lugar sossegado nas montanhas, vivia a família Kamado em boa paz. Certo dia, o filho mais velho (vulgo Tanjirou) volta para casa após ter ido vender carvão na cidade, apenas para encontrar toda sua família morta por um oni (demônio), sendo a única sobrevivente uma de suas irmãs, Nezuko, ela mesma agora transformada em um oni. Nezuko, porém, não se rende totalmente a essa maldição, e juntos os irmãos começam uma jornada em busca de torná-la humana novamente - sendo que para isso, Tanjirou decide se tornar um exterminador de demônios (o que nesse mundo é algo muito similar a ter um emprego, só que sem carteira assinada e tremendamente insalubre).
Agora a parte interessante: Tanjirou é sim aquele protagonista shounen gente boa e meio bobinho que não é novidade no gênero, e que sai por aí fazendo amigos e derrotando monstros e tal. PORÉM eu ouso dizer que a construção dele como um personagem super empático não é tão comum assim de se encontrar. Talvez por ter a própria irmã transformada em oni ou talvez por simplesmente ser esse tipo de ser humano puro, no decorrer de toda essa 1ª temporada o menino mostrou piedade até pelos mais impiedosos dos onis. E ISSO FOI LINDO, OK?
E ter compaixão é mais do que se colocar no lugar do outro e ficar triste por ele, é também tomar ação quanto a isso. E bem, como se faz isso com demônios assassinos devoradores de gente? Se faz igual ao Tanjirou. O garoto, ao contrário de nós espectadores, nunca recebe flashbacks do passado triste do ser que ele enfrenta nem tem outro personagem que conte pra ele o ocorrido. Tudo o que ele sabe é que os onis, ao menos no princípio, não costumam ser mais do que vítimas da situação em que se encontram, e enquanto o fato de terem matado pessoas não pode ser mudado, isso não significa que na hora da sua punição, esta precise ser aplicada de forma cruel - muito pelo contrário, pode ser precedida (ou seguida, dependendo do caso) por um último ato de gentileza, em memória a uma humanidade perdida.
Pode ser um simples elogio...
...ou a mudança na escolha do ataque para uma execução mais serena.
De qualquer forma, é muito interessante acompanhar toda essa dualidade no Tanjirou. Toda vez que ele assiste uma pessoa ser morta por um oni, você percebe o quanto ele fica pistola; e mesmo assim, quando nosso protagonista enfrenta o assassino, ele ainda é capaz de demonstrar compaixão - e não é uma coisa meio talk no jutsu, buscando a bondade interior do sujeito (com todo respeito, Naruto). É só ser legal com alguém que talvez nem “mereça” mais, mas que muito provavelmente já sofreu em determinado momento da sua existência.
E é isso. Se eu recebi alguma “moral da história” ao fim de Kimetsu no Yaiba, foi isso: exercer a justiça não te impede de oferecer misericórdia às pessoas, até com a mais vacilona, até com um oni.
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